sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Por que só se fala em e-books?

Cindy Leopoldo - 01/02/2012

PublishNews - 31/01/2012
Porque eles encantam e assustam. Não só os leitores, mas principalmente os editores.

Os leitores (nem todos) se encantam com as novas possibilidades de armazenamento de sua biblioteca, a praticidade de comprar um livro a qualquer momento e de qualquer lugar. Os editores se encantam com o fato de poder colocar seus livros para vender mais rapidamente, para todo o país, sem precisar passar pelas etapas da impressão e da distribuição física (embora no formato digital existam ainda outras etapas que, dependendo do conteúdo do livro, podem levar quase a mesma quantidade de tempo).

Há, porém, coisas que assustam: nem leitores nem editores (e menos ainda as livrarias) estão prontos para o “desaparecimento” dos livros impressos e alguns acham que os e-books vieram justamente para isso. Não tenho como prever se coexistirão para sempre (e também não sei quanto “para sempre” dura), mas o trabalho atual tem sido fazer os dois formatos. E isso força as editoras a criar novos cargos e a treinar pessoal exclusivamente para a criação de produtos que ainda não vendem o suficiente para pagar tudo isso. 

Sei que a ideia comum é a de que é só pegar o arquivo final do impresso e colocá-lo para vender como e-book. Pode ser que existam editoras que trabalhem assim, mas no geral há o que chamamos de “conversão”. Eu achava que essa conversão era mais fácil que a criação do zero de um e-book, mas não é. Atualmente, vejo que é mais difícil converter, por exemplo, um livro impresso para ePub do que começar um sem modelo impresso. Isso acontece porque o impresso cria expectativas irreais de diagramação, e como exemplos dolorosos posso citar que imagens e fontes não raramente têm que ser integralmente trocadas. E, sério, isso assusta. (Quando você troca todas as imagens por um formato que você sabe que ficará perfeitamente legível, mas esse formato é tão pesado que cada página com imagem demora mais de dez segundos para passar, isso assusta demais! Mas, ok, esses são terrores muito pessoais...)

Sim, e-book assusta quem faz, quem lê e quem vende. Então, por que, diabos, fazer isso? Porque (quase) todos admitem que ter a opção de se livrar do físico quando der vontade é uma boa ideia. Ok, uma ideia que parte das empresas de tecnologia, mas ainda assim boa. Como é boa a ideia de ter zilhares de músicas estocadas digitalmente e de ver filmes direto do celular ou dos tablets. Isso é encantador. Mas, sinceramente, quando penso em músicas e filmes digitais, eu não penso em iTunes ou Netflix, por exemplo, eu penso em sites tipo Megaupload, ou o mais popular no Brasil, 4shared. Isso é mais que assustador... e é uma tendência. Busque agora, por exemplo, “e-books” no Google e você vai ver que a primeira página de resultado quase inteira tem a palavra “grátis” ao lado de “e-books”.

Além disso, Paulo Coelho está finalmente apresentado seus poderes sobrenaturais ao mundo e apoiando a pirataria dos seus livros. Isso encanta o leitor, mas apavora as editoras, que, com a digitalização de seu trabalho, sente que pode perder não só o dinheiro que entrava com a venda dos livros para os leitores, como também os seus autores best-seller, pois estes podem vender (ou até doar) suas obras diretamente para seus leitores.

Mas o que me encanta na atitude do Paulo Coelho é que ele, diferentemente do Metallica na época do Napster, por exemplo, está tentando agradar a maioria. O que não foge às palavras do filósofo Jeremy Bentham sobre a função do capitalismo, que seria produzir “o maior bem para o maior número”. Sinceramente, me encanta ver o capitalismo mudar, ainda que por exigência de outra indústria e não completamente por causa de cyberativistas Anonymous. Encanta bem mais do que assusta.

* Cindy Leopoldo é graduada em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pós-graduada em Gerenciamento de Projetos pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Trabalha em departamentos editoriais há 7 anos. Escreve quinzenalmente para o PublishNews, sempre às terças-feiras.

Biblioteca Nacional disponibiliza acervo digital

Jornal O Tempo - 23/01/2012

Dentre todas as vantagens da aplicação da tecnologia digital no campo da literatura, talvez a mais efetiva e salutar delas seja a democratização do acesso às obras. Com a digitalização dos livros, já é possível, por exemplo, a uma pessoa em qualquer lugar do mundo acessar o acervo da Biblioteca Nacional (BN), cujo endereço físico está no centro do Rio de Janeiro, e baixar, em PDF, livros como "O Cortiço", de Aluízio Azevedo, ou "O Alienista", de Machado de Assis.
Por enquanto, do acervo da BN, o maior do país, estão disponíveis apenas obras em domínio público - passados 70 anos da morte do autor - o que soma cerca de 600 títulos. Mas está em curso um projeto para ampliar o acesso a esse acervo, implementando o serviço de empréstimo de e-books e incluindo, dessa forma, obras que ainda têm direitos autorais e precisam de proteção contra sua disseminação indiscriminada.
Para se ter uma ideia da dimensão dessa mudança, a BN tem em média 5.000 visita por mês, enquanto que a BN Digital teve em 2011 mais de 120 mil acessos ao mês. "Esse número vai dobrar, triplicar, à medida que aumentarmos o acervo", comenta Ângela Bittencourt, coordenadora da BN Digital.
Periódicos. Sob a responsabilidade do Ministério da Cultura (MinC), as ações da BN têm muita importância porque, ali, se criam paradigmas para o modelo de biblioteca no resto do país.
Dentre essas ações está um "grande projeto", como conta Ângela, de digitalização de nove milhões de páginas de periódicos até o fim do ano. O projeto Resgate da Memória Hemerográfica Brasileira será aberto em março e vai tornar disponíveis para consulta, por exemplo, a "Gazeta do Rio de Janeiro", fundado quando da vinda da Corte portuguesa para o Brasil, em 1808, e o "Correio Brasiliense", fundado no mesmo ano por Hippólyto José da Costa, que teve de instalar sua redação em Londres pois defendia, contra a coroa, ideais independentistas e o fim da escravidão.
"O que estamos criando não é uma coleção estática na qual você vai pesquisar", diz Ângela, explicando o caráter da democratização do acesso que a tecnologia digital tem possibilitado.